14 de set. de 2016

Preciso desabafar, então lá vem textão.

Desde pequena sempre fui muito cobrada. E via coisas estranhas acontecerem. Coisas que fugiam do meu controle e compreensão, e que hoje percebo como influenciaram quem eu sou e as coisas que eu odeio ou não consigo amar completamente. Fui a primogênita de 8 meses depois do casamento, no começo de uma vida bastante miserável, com pouco dinheiro, pouco tempo e pouco afeto. Minha mãe sempre foi mais carinhosa, e até certo ponto ela era minha melhor amiga. Mas meu pai... sempre foi só uma figura a qual eu sabia que tinha que respeitar porque estava sempre certa. Ele e minha mãe tiveram vários problemas conjugais (e extra-conjugais), que me fizeram ter lembranças até hoje da minha mãe chorando e dizendo que eu nunca poderia me deixar ser dependente de ninguém, que eu devia ser independente e dona do meu próprio nariz. Além disso, ela era também extremamente dependente emocionalmente dele, entao era sempre uma montanha russa de amor e ódio, que me fez chegar ao meu primeiro namoro mal-sucedido, abusivo e humilhante. Tirei minha virgindade com meu primeiro namorado, e fiquei com ele 3 anos, aturando brigas ridículas de possessividade sem sentido, aturando um bêbado que me acusava de ser uma vadia e me deixava com o braço roxo constantemente, vivendo com medo de ficar solteira e perder meu amor verdadeiro (porque minha mãe casou com seu primeiro homem, que também é seu amor verdadeiro, doentio o suficiente pra sair de casa em um dia planejado para traí-la e entregar um maço de cigarros a ela dizendo que ela ia precisar, fazendo-a fumante até os dias de hoje, coisa que eu nunca analisei em minha ignorância naquela época). Já por outro lado, meu pai bradava aos quatro ventos que quando eu saísse do ensino médio, ele ia me dar um apartamento e faculdade, pra eu me formar e me dar bem na vida. E assim eu me criei, sem nenhuma base rígida do que é família (além de respeitar acima de tudo, e quando estiver contrastando as ideias, é porque eu estou errada), com dois modelos de comportamento que eu devia seguir, e pouco incentivo real pra qualquer um dos dois. Virei rebelde. Depois que terminei meu primeiro namoro, me senti livre pra ser eu mesma. Saí de casa com meus 17 anos e fui morar fora, e já estando em uma cidade grande e convivendo com pessoas de personalidade e amor-próprio bastante fortes, pude entender um pouco melhor a miséria emocional em que eu estava. E depois, como falei, virei rebelde. Sempre escutando rock, toda de preto, ideais fortes de independência e vida simples. É o que minha mãe me dizia: ser independente, não depender de homem, ser quem paga as contas e dá chute em bundas desprevenidamente apaixonadas. Mas sempre fui emocionalmente muito fraca, e qualquer pingo de amor na minha direção era superestimado e eu também sempre fui emocionalmente bastante dependente do meu parceiro. Bem maluco, né?

Enfim, agora namoro um cara equilibrado, que conseguiu abrir meus olhos a ponto de eu re-analisar minha vida inteira (como estou fazendo um pouco aqui), e perceber que a culpa não é minha. Eu não preciso conviver me odiando por ser ansiosa, sentimental demais, com medo de rejeição e de conflito, e ao mesmo tempo cheia de ego e sonhadora. Ele me fez perceber que aquilo que meus pais criticam de serem sonhos bobos, na verdade, são super palpáveis e realizáveis, e que eu só preciso de determinação o suficiente e um cadinho de bons contatos.

Por isso, gostaria de desabafar, que minha confusão e desestabilidade emocional e psicológica esteve comigo desde quando eu nasci, e por isso, fiz escolhas erradas e precipitadas, e sou muito julgada por isso. Só que não vou deixar o ego de não poder errar estragar minha vida (mesmo que ela seja um pouco estragada por esse exagero de julgamento). Vou continuar tentando, com o seu o apoio da minha família. Vou continuar lutando pra encontrar meu lugar no mundo. Vou continuar sonhando e querendo fazer deste mundo um lugar melhor, mesmo sendo besteira aos olhos deles. Vou continuar acreditando, e perdoando, mesmo que me decepcione mais mil vezes.

Porque isso, esse traço, eu sei que é genuinamente meu. Nenhum deles é assim, nenhum deles nunca me incentivou a seguir sonhos grandes (a não ser os que envolvessem muito dinheiro). Essa determinação de perdoar e continuar acreditando nas pessoas, esse amor pelas coisas mágicas e boas, esses sonhos grandes e bonitos, isso eu sei que é tudo meu.

E não vou abrir mão do que eu mais amo em mim.