19 de ago. de 2022

 Eu não sou doida

Eu não estou alucinando

Eu não posso ter estado errada por tanto tempo assim

Eu juro que eu me esforço pra acreditar, pra dar a cara a tapa, eu juro que eu to tentando achar que eu que tô doida, alucinando e errada por todo esse tempo, eu juro.

Mas eu também juro que tenho limite. Minha compreensão tem limites. Meu amor tem limites. Minha cara de idiota tem limites.

E eu não sou doida.

 Eu não aguento mais esse peso... Essa pedra gigante alojada no meio do meu peito, fazendo uma força horizontal (alô gravidade?) e abrindo um valo bem entre os meus pulmões.


Eu não aguento mais essa dualidade de ser vilã e ser vítima, de tentar ajudar e no entanto, terminar o dia com sangue nas mãos.


Eu não aguento mais essa passivo-agressividade, esse tom de piada no meio de uma chicotada onde a mão que açoita ficou escondida na escuridão.


Eu não aguento mais me arrastar e sangrar e tentar ajudar e sentir que o ar que eu respiro é grosso e tóxico e derrete a minha pele.


Eu não aguento mais amar desse jeito. Porque dói, e tudo o que eu faço faz doer mais, tudo o que eu faço é errado e dói no outro também.

 

E por mais que eu esteja tentando fazer curativos e andar em linha reta, eu só posso fazer isso por mim. E o outro só pode fazer por ele mesmo. Mas a conta não ta fechando. E a culpa não vai embora.


Eu não aguento mais.

6 de abr. de 2022

 Como é estranho estar num processo longo de transição

Sentir que não sou nem mais jovem, nem velha ainda

Questionar cada passo e cada palavra que eu digo e recebo

Achar que já estou no fim de tudo, quando na verdade eu nem consegui começar ainda


Estou andando, e andando, e andando

Apenas andando

Nem correndo a todo vapor

Nem sentando e sentindo o vento do outono

Apenas andando


Queria ter uma música famosa, ser chamada pra falar dos meus projetos em eventos

Queria ter a autoconfiança e a elegância da Paola Carosella

Queria me vestir como a Lady Gaga

E saber qual é a minha paleta de cores


Mas ta tudo bem, eu to aqui com o coração apertado

Escrevendo um rascunho de música na TPM

Querendo chorar mas sem poder sair do escritório

Porque a moça da limpeza ainda não terminou


E por mais engraçado que isso pareça

Escrever músicas é muito mais divertido do que escrever poemas

O coração ainda dói, é claro, quando é que ele não dói?

Mas agora ele ta chorando e rindo, com lágrimas escorrendo pela boca de sorriso aberto

 

Como é estranho estar nesse processo longo de transição

Sentir que não sou nem mais jovem, nem velha ainda

Questionar cada passo e cada palavra que eu digo e recebo

Achar que já estou no fim de tudo, quando na verdade eu nem consegui começar ainda


Estou andando, e andando, e andando

Apenas andando

Nem correndo a todo vapor

Nem sentando e sentindo o vento do outono

Apenas andando

 


12 de fev. de 2022