13 de fev. de 2015

Ela era tão linda e tão grande!

Mas o ar ao seu redor parecia doente... escasso... fraco... Tentei cuidar dela, dar à ela o meu amor, minha água, minha vivacidade, usando de todos os conhecimentos medicinais que conhecia, e saía satisfeito, vendo-a melhor. Mas no outro dia, quando eu voltava para ver como ela estava, parecia ter voltado à estaca zero, como se a a cada dia, ela zerasse e voltasse à mesma doença. Não sei bem como explicar, é como se nem mesmo os animais quisessem mais chegar perto dela, e isso a fazia ficar ainda mais desanimada a melhorar... Quando eu chegava perto dela, cuidava de seus ferimentos e conversava com ela, parecia que até mesmo a cor voltava um pouco ao local, mas era só quando eu estava por perto.
Decidi então me mudar pra lá, fazer uma cama de palha ali mesmo, dentro dela, para que ela estivesse animada sempre! Descobri novos ferimentos, raízes expostas e desnorteadas, crescendo pros lados errados, e tratei de cuidar de tudo. Desse jeito, ela foi se recuperando, retomando suas cores, suas folhas, e deixou até um galhinho novo aparecer!
Mas olhando-a, parecia ainda assim um pouco solitária, como se alguém tivesse tirado dela o significado da vida e da existência... À essa altura do caminho, já haviam olhares curiosos e saudosos da tribo, que vinham me visitar, me trazer alimentos, me criticar e apreciar a minha mais nova amiga. E foi aí que o nosso mais adorado e antigo líder, Kamandhí, veio à mim. Observou-me por mais ou menos uma hora, e calmamente, com aquele olhar que tanto nos faz admirá-lo e respeitá-lo, me disse:
- Você não vê que já está quase morta?
- Bem... eu não sei, mas acho que posso recuperá-la! Devia vê-la quando a encontrei, ela está maravilhosamente melhor, está até criando novos membros! Tenho certeza que ela ainda tem muita vida pela frente, e muito a dar aos iazus e à floresta;
- Deveria abandoná-la! Há outras precisando de ti, que tem mais chances de viver...
Neste momento, olhei-o assustado, aterrorizado, e voltei meus olhos para minha tão estimada e frágil amiga. Não poderia, de maneiro alguma, abandoná-la! Podia sentir o quanto ela precisava de alguém, o quanto era solitária e rejeitada, e de certa forma, me identificava um pouco. Eis que, neste momento, senti um fino pólen cair em minha bochecha e nariz, brilhando como o mais fino ouro, com um cheiro doce... como o de uma dryad! Eu não havia visto nem de longe dryad alguma, mas pelas histórias que me contavam, aquele era o único cheiro que eu poderia imaginar em uma dryad! Então, olhei para Kamandhí, sorrindo como uma criança boba, mostrando-o o pólen em minha bochecha, e então, acompanhando seu olhar perdido, vi a flor da qual o pólen havia caído. Uma linda flor azul, enorme, do tamanho de minhas duas palmas juntas (e tenho mãos bem grandes, diga-se de passagem), com milhares de pétalas, e dois filamentos compridos em seu interior, de um amarelo vívido e brilhante, já sendo mexericada por uma pequena abelhinha. Era a coisa mais linda que eu já havia visto!
- Kamandhí, veja, há esperança, sempre há!
- Sim, mas você não poderá abandoná-la nunca, meu querido. Ela confiou a ti sua mais linda prova de amor, e mesmo tendo desistido da vida, voltou a lutar pela mesma, por você. Esta gigante estava adormecida a muito tempo, e muitos foram os que tentaram cuidar dela. Minha fé em ti agora é ainda maior! Os iazus que aqui gostam de ficar, podem te ajudar, mas ela é sua responsabilidade, de hoje em diante, e para sempre!

Nenhum comentário:

Postar um comentário